sexta-feira, março 23, 2007

O DINHEIRO NÃO TEM BANDEIRA

Existe circulando pela internet uma infinidade de piadas, caricaturas, críticas pesadas e outras manifestações contra o atual presidente da República. Acho que é bom que possamos nos expressar com liberdade, afinal isso é bem democrático, para usar a palavra meio gasta, mas que surge seguidamente nos debates.Entretanto, apresentar Lula como um excremento é fazer como o cachorro que ladra enquanto a caravana passa. Pode até funcionar para risadas,reforçar um sentimento anti alguma coisa, mas não vai ao essencial. Eu acho que deveríamos fazer charges mais abrangentes e ter outras atitudes, se quisermos passar uma mensagem realmente modificadora.Uma delas é votar. Especialmente votar contra o sistema que está bem representado por mais de um candidato. Nada de picolé de chuchu, devemos provar outro sabor, mesmo uma pimenta agressiva pode ser um bom voto de protesto contra o que todos reclamam. Pelo menos no primeiro turno. Depois, provavelmente entre a cruz e a caldeirinha, paciência, talvez seja mais prudente permanecer no inferno já conhecido. Particularmente, não alimento ilusões, nós não teremos um salvador da pátria. Pensar que sim, também faz parte do márquetin. Mas voltando às particularidades brasileiras, como surgiu esta história de que o nosso povo tem tanta raiva de pobreza? Primeiro mundo, ver e babar, é uma frase que se dizia por aqui quando há muitos anos passava um comercial do Martini Bianco, todos num iate vestidos de branco, voiles esvoaçantes, sorrisos ortodônticos, uma beleza. Fomos transformados em consumidores por manobras bem direcionadas, uma delas incidindo sobre o sistema educacional,além do empobrecimento no campo que levou ao inchaço das grandes cidades e ao processo de desaculturação progressiva. É uma piada triste mas lembrei de um argentino que morava há tempo em Porto Alegre e um dia falou: brasileiro tem é coca-cola nas veias. É no hemisfério sul que se concentra o grande curral consumidor do lixo que jogam sobre nós, compramos muito, assimilamos muito, trabalhamos muito para ouvir ainda, dito mesmo por compatriotas, que brasileiro é vagabundo. Vagabundos são os que nos exploram e trabalham 20 horas semanais.Vejamos, então, só uma ponta do iceberg. Sempre que se fala em espetáculos televisivos, especialmente novelas, diz-se que o povo não gosta de ver pobreza, que tem raiva de pobre, que gosta do luxo. É uma falácia travestida de verdade e que serve muito bem aos que puxam os cordões da marionte. Aí ficamos nos xingando,vejam só esse presidente, todo mundo roubando, vamos colocar lá em cima um homem formado, especialmente com pós graduação na Sorbonne, ou um industrial rico que não precisa roubar, essas baboseiras todas e pior, um que rouba mas faz e pasmem, elege-se mais de uma vez. E a emissora representante dos mais iguais continua colocando a isca apropriada em sua novela das nove, um mundo de ócio, dinheiro fácil, e pra variar temos agora uma classe "média" onde fora os criados, só duas pessoas trabalham (uma é médica)e suas casas são cinematográficas,a distribuição de jóias da falecida transcorre num clima de peguem essas coisinhas (ver e babar), uma cena bem comum na realidade brasileira, pois não? Então, os "duros" sonham com as uvas lá em cima, ficam esperançosos, quem sabe? Aí,a verdadeira classe média, mais mobilizada e pronta que seus irmãos menos favorecidos, faz o serviço sujo e pisa nos de baixo, não deixa eles crescerem em protestos, chama os movimentos dos sem nada de terrorismo, a grande e cada vez maior base da pirâmide. Pra garantir a posição na maratona, na vil esperança de alcançar mais riqueza ou simplesmente de manter privilégios,a classe média serve de capitão do mato, de feitor pro grande senhor da fazenda, que hoje não é um lugar, não é um país, é qualquer paraíso no planeta, onde o dinheiro não tem bandeira. (Acho que estou correndo risco porque o que eles mais detestam é um bom nacionalista, esses filhos da mãe!)E não pensem que essa gente de quem falei são os outros. Na atual conjuntura, nós que comemos três refeições por dia, estamos aí diante do micro, fazemos parte desse povo. E já faremos muito se tomarmos consciência desse fato, tentarmos divulgar a idéia para que no caso de chegar o nosso dia de debaixo da ponte, acampamento de lona, miserê legal, possamos ouvir algo melhor dos de cima do que" são uns vagabundos, tem que matar tudo, chamem a CIA (essa escapuliu). Eta mundo velho sem portera, que saudades da vida besta que o Drummond execrava em início de carreira. Dá pra resumir com uma frase de um personagem do Quino,cartunista que fez sucesso na década de setenta, provavelmente a Mafalda: "no se trata de de herir suscetibilidades, sino de matar-las." Só que agora os vilões se tornam invisíveis, não têm endereço, não baixam no terreiro, não usam fardas, esses são ainda piores.

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