sexta-feira, março 23, 2007

A CIDADE É SEU PRÓPRIO ALGOZ

Horas e mais horas de filmagens, entrevistas, choro, parentes, o governador, o bispo...não, este ainda não apareceu, ainda é só para dar a conotação de exagero que representa mais esta história trágica de uma grande metrópole.Vendo o número de vítimas, pouco mais de cinco, fiquei a pensar no número estatístico de mortes diárias e muitas vezes anônimas nesta monstruosa capital. Pensei no porquê de tanto alarde sobre um fato que, se olharmos pelo número de mortos, torna-se minúsculo diante do acidente generalizado em que se constitui a própria existência de metrópoles gigantescas como esta. Vem-me à mente o motivo de sua existência. Todo mundo sabe que a população de São Paulo inchou com imigrações recentes em termos históricos, mas que se agigantou com a migração interna, resultado especialmente, do êxodo de nordestinos em busca do sul sob total desespero. Assim também aconteceu na cidade do México que é uma monstruosidade que abriga pessoas egressas dos campos miseráveis.Assim, criados estes monstros urbanos, com seus milhares de veículos circulando todos os dias, ninguém deveria ficar admirado que, de vez em quando, de tanto remexer e remexer para que esta gente se movimente melhor, algo viesse abaixo, porque me parece impossível que em tal barafunda de estruturas, em tal parafernália infernal, a terra não ceda de vez em quando, afinal, a Terra está a girar, as árvores a crescer, mas o homem com suas mãos está a destruir, a cimentar, a esburacar e a poluir o planeta há muito tempo. Temos que pagar o preço. Há descuidos, há desvios, há má intenção? Sim, existe tudo isto! Entretanto, convenhamos, esta cidade vista assim na reportagem, com vias sobrepostas e aquele trânsito caótico é de dar um nó na garganta. E agora os jornais exploram pra vender, pessoas podem lucrar com alguns minutos na telinha, a intimidade das famílias em sofrimento é exposta vergonhosamente na TV como espetáculo.E não demoram a aparecer os que aproveitam pra gritar por justiça, faltam só as passeatas com aqueles cartazes que surgem pateticamente diante do que não tem solução. Ou melhor, cuja solução exige atitudes de cidadania que o comodismo e o individualismo de muita gente que reclama não permitem assumir. Grita-se contra os governos, melodramas surgem em crônicas oportunistas, como se a tragédia desse povo não fosse assunto diário e corriqueiro. Como se hoje mesmo em São Paulo não vão morrer bem mais que cinco pessoas, em circunstâncias de violência, descaso, miséria e outros problemas, cuja cronicidade aponta para um futuro ainda pior. A IMPRENSA VENDE, OPRTUNISATAS FAZEM ALARDE, A CIDADE É SEU PRÓPRIO ALGOZ!!!
tania orsi vargas
Publicado no Recanto das Letras em 15/01/2007Código do texto: T347753

Nenhum comentário: