domingo, setembro 02, 2007

NA SOLIDÃO DESTE DOMINGO EM MEU BLOG

E neste domingo nove horas da manhã, acordo com uma chuva primeiro muito forte, agressiva, e , em seguida, atenuando-se e permancecendo numa modorra de chuvisco bobo, que é salvo em sua monotonia pelo canto dos pássaros nesta primavera recém iniciando. Sinto o cheiro da natureza e meus pés descalços tentam fugir do piso frio cruzando-se e improvisando um suporte com o dedo grande do pé esquerdo. Ninguém me escreveu ainda, parece que pouca gente tem lido minhas escrevinhanças. Mas, envolvida que estou com este momento de minha vida, isso não me causa nenhum dissabor. Quem eu queria presente, permanece calado. E isso me sugere uma reflexão, mais uma, de que contatos virtuais têm essa possibilidade de ausências sem até logo, já que dificilmente teremos evidências de mentiras. O que eu passo para os outros do mim mesma, o que os outros passam pra mim e novamente redimensionado no decodificador de cada individualidade, pode criar quase uma nova pessoa, ou mais do que isso, exaltar qualidades inexistentes, criar desconfianças inúteis, enfim, somos todos eus para os outros, eus construídos com nossas palavras, com nossa benevolência pelos nossos defeitos, vontade de ser amados, admirados até. Tudo isso vai passando por minha cabeça na solidão desse Blog. Quem seremos verdadeiramente aqui e fora, onde o sol brilha e somos corpos em movimento e irradiando presenças destacadas no cenário das nossas casas, das ruas em que transitamos diariamente, dos pequenos dissabores e alegrias repentinas com som e imagem. E você que não vem, e você que tanto se resguarda. Uma geografia reticente. Uma explosão de sensibilidade e carinho seguido por um vazio sem fim. Contrastes. Que merda de vida, enfim!!!!!!!!!!!!!






AS EVAS AINDA SE DEBATEM


Até pouco tempo atrás pensei que soubesse quem eu era. Entretanto, tenho visto minha casa revirada e minhas certezas transformarem-se em grandes e cintilantes pontos de interrogação. Você e eu tateamos no escuro, como dois cegos soltos numa casa abandonada, ninguém no caminho, agluns móveis apenas, algum degrau onde escorregar. Sinto-me exatamente como algum minúsculo inseto cujas asas estão surgindo e "sabe"-se tão vulnerável, mas sente que algo muito forte o vai fazer ir em frente, esvoaçar por um espaço que lhe será oportunizado uma só vez. Cega e andando em círculos, quando você me toca de leve o rosto, e fala tão mansamente, eu quero acreditar que você é a confirmação do que há de melhor no ser humano, mas, quando, por algum movimento mais tresloucado, você toca diretamente em minha intimidade, aí algo em mim parece gritar muito forte, e me sinto tomada por medos não identificados, como se deixar tocar meu corpo seja ser marcada a ferro em brasa por alguma Flor de Liz de uma lei onde mulheres tocadas por dedos ávidos possam sofrer a perda de tudo que mais amam, possam ser relegadas ao mais sórdido recanto da aldeia, possam ser pisadas com justificativa. Ranço do pecado original, ranço do pecado contra a castidade totalmente assumido pelas Evas deste paraíso decadente? Mesmo aquelas que se dizem livres, no fundo amargam uma danação ancestral. E aquelas que se digladiam em versos obcenos são ainda mais desgraçadas, por só conseguirem seu prazer de forma assim pervertida, uma identidade de "perdidas".Talvez você saiba disso tão bem quanto eu. Talvez consiga até ver mais claro, por estar em posição de espectador neste inferno de culpa feminino. Mas eu não aceito facilmente as evidências. Preciso tirar a prova. E quando meu pensamento mais racional ri da fraqueza dos homens e sabe da fortaleza das mulheres, sabendo-os tão frágeis e com uma sexualidade tão diluída, sem evidências como a das mulheres, ainda assim meu peito se aperta sob a visão de mãos torpes me tocando, de criaturas vazias das quais eu não aceitaria tal intimidade e possíveis palavras depreciando meu caráter. Este é um inferno inculcado em nossa mente feminina, do qual enganosamente parecem estar se libertando as mulheres. Pois que agindo como predadoras sexuais, aceitando a cama de qualquer um, ou pelo menos tratando de seu corpo como um brinquedo qualquer, permitindo que o parceiro despeje sobre seu rosto suas secreções , não alcançará mais do que chafurdar em um terreno pantanoso onde nada se constrói, pois nada realmente vital e sublime foi tocado nestes exercícios de sensualidade superficial. Mas eu não aceito todas as evidências, já disse. Eu quero minha liberdade. Aquela que me foi sonegada em tenros anos, quando aprendi a me "defender" dos homens. Uma vaga ameça pairando no ar que vai crescendo e se transformando no monstro predador. E que, dividindo as mulheres em certas e erradas, terminou por dividir também os homens, fazendo com que com as suas esposas tivessem filhos e com as outras, o prazer.Eu quero de volta minha identidade de bicho mulher. Minha inocência manchada com preconceitos. Quero assumir o comando dos meus dias. E não deixar que nenhum homem me pise. E se me tocar, manter-me inteira sempre. E não ceder a nenhum invento que me vulgarize, que faça de meu corpo objeto de banalidades. Porque acho que meu corpo deve ser respeitado. E não vai aí nenhum moralismo encruado. Falo do respeito pela minha integridade, pela minha sensibilidade, pelo meu recato que nada tem de artimanha, mas é algo inerente à minha personalidade. Não faço questão de me valer de recursos sejam quais forem, além dos que a natureza me dotou. O meu maior afrodisíaco virá do meu interior, da minha capacidade de estremecimento, da química que se processa em minhas entranhas, da emoção de um olhar no meu. Mas não terei recatos ditados por preceitos ceifadores de minha natureza feminina. Serei mulher em toda a plenitude, o que não implica de forma nenhuma, em me submeter à modelos de conduta ditados por sordidez travestida de liberalidade. Não concederei a nenhum homem dispor de meu corpo para diversão barata. Porque também não buscarei o seu para este fim.Um novo paraíso talvez seja possível onde ambos, homem e mulher, estejam presentes para um encontro sem reservas, na plenitude de sua capacidade de dar e receber amor.



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