sábado, agosto 04, 2007

SEXO VIRTUAL







Se a minha avó sequer sonhasse com algo como o sexo virtual ela pensaria, no mínimo, ter aportado a um inferno qualquer onde a luxúria reinasse soberana e promíscua, onde demônios em forma de mulheres em ângulos totalmente indecorosos fizessem a maior farra e onde ela, pra sua surpresa, não veria nenhum diabo jogando ninguém em fogueiras nem espetando pecadores com seu tridente. Então, sendo sonho, ela acordaria apavorada e faria um sinal da cruz rápido pra afastar maus pensamentos. Mas todo esse mundo só existe na tela do computador. Por enquanto. Vai que daqui a algum tempo não muito grande, inventam um jeito de as pessoas se apalparem via máquina e aí vai ser o diabo. Mas do jeito que o cara anda desmoralizado, acho que talvez tenha que surgir algo mais contundente, um monstro mais assustador porque este tal de demônio anda mesmo desmoralizado. Mas por enquanto é assim:do lado de cá, uma pessoa sentada em uma cadeira nem sempre tão confortável, olhos fixos e dedos teclando, postura um tanto curvada pra frente, e é só. Tudo acontece mesmo é dentro das cabeças, a partir da visualização de imagens ou leitura de textos. Então as expressões fisionômicas determinam as mudanças que ocorrem no internauta, emoções, sensações, e lá está o ser humano com uma parceira quadrada e fria, a TELA, como uma escrava a quem ele ordena o que fazer.. Foi-se o tempo de meninos espiarem por fechaduras, por portas entreabertas, de senhores avançar o sinal com serviçais. Agora temos algo bem mais prático e tranquilo, e que ainda pode ser seu próprio álibi, pois tudo se faz por aqui, inclusive comprar e pagar contas. - Roberto, você não vem dormir? -Já vou, estou terminando de digitar um texto. O que ele está mesmo fazendo é se deliciando com versos e imagens pornográficas em um blog qualquer. E é surpreendente como homens que por um lado se apresentam como sérios, comedidos, pessoas respeitáveis, ao aportar em tais sítios viram moleques curiosos que não se contentam em olhar, sentir, não, eles têm que deixar comentários, aplaudir, bater palmas, dizer que tiveram prazer, assinar embaixo, mostrar competência. Mesmo que o façam discretamente, elogiando o espaço com palavras discretas, parece que deixar seu nome é uma instância indispensável, como se ao fazê-lo, de certa forma, o ato imaginado atinja também quem se expõe em fotos, palavras e outras performances. Será então, uma comunhão de prazeres, uma conjunção carnal que se concretiza neste elo formado . E diante de si mesmos, ratificam sua masculinidade, ou aquilo que pensam ser tal apetrecho. Falei masculinidade? Então me equivoquei. Estes comportamentos designam macheza. E qual a diferença? Enorme. Quem tem certeza de sua competência, não se expõe dessa forma. Tais expedientes são muito usados por aqueles que precisam estar a todo tempo provando a si mesmos e aos outros que são homens de verdade. São mesmo é uns incompetentes e medrosos. Se fosse possível filmar pessoas diante da tela, em momentos exacerbados desses, teríamos provavelmente, as cenas mais engraçadas. Imaginem alguém praticando prazer solitário sentado à frente do computador. Patético? Digamos que lamentável. E com som no filme, além da mímica grotesca, teríamos gemidos, palavras, gritos e sei lá o que mais que alguém pode fazer numa situação dessas. E as câmeras, em que pessoas totalmente estranhas e outras nem tanto, exibem-se como mercadorias umas às outras? Um mercado de escravos voluntários. Uma feira livre de carnes em profusão. Uma grande festa ao deus Baco, onde estamos todos separados mas próximos o suficiente para contatos que se não íntimos pelo toque, pelo corpo a corpo, de uma proximidade permitida por visão e audição. Sim, neste universo de total consumo, viramos todos mercadorias com preço. E a maioria não tem rosto, ou usa falsas imagens para se identificar. Os verdadeiros sujeitos das ações estão quase sempre escondidos por pseudônimos, fotos falsas, descrições fantasiosas. Dessa forma os milhões de internautas multiplicam-se por usar várias identidades aumentando ainda mais a distância entre eventuais “parceiros”. Muitas mulheres dizem que, por apresentarem atitudes cada vez mais parecidas com as do homem, o que inclui promiscuidade sexual, vários parceiros, são pessoas livres. Ainda mais considerando-se que tais práticas se revestem de total descompromisso com a consideração pelo outro. Tornam-se simples produto de consumo descartáveis. Ora, em primeiro lugar, ser cópia dos piores comportamentos do macho não me parece algo que denote senão uma imitação grotesca longe de significar qualquer sinal de liberdade. Livres seremos ao escolher o tipo de vida que queremos ter, seja num casamento de muitos anos, seja em relacionamentos eventuais, seja do jeito que acharmos conveniente. Qual a diferença, então? A diferença reside na forma como nos apresentamos, no respeito imposto a quem se aproxima. A ala feminina cair na gandaia de sites pornográficos, onde a nudez da mulher continua a grande mercadoria, é aceitar o achincalhe dos homens, é descer a condição de mera prostituta, usada por todos sem nenhuma consideração. É preciso ser livre, sim, livre inclusive para deitar com quem achar conveniente. Mas há os limites que nós mulheres devemos impor. Nossa nudez com quem quer que seja, deve ser respeitada. Isso inclui não aceitar que o parceiro resolva fazer o que bem quiser. Outro dia ouvi uma pergunta que uma jovem fazia a um programa de TV. Ela perguntava, pasmem., se devia concordar em ter certa prática com o namorado, pois , apesar de não gostar, não queria desagradá-lo. Uma "Amélia" pós moderna? Uma escrava dos desejos do amado amante? Anseio por uma pessoa de carne e osso, algo meio primitivo como o contato com outro corpo, um estar a dois do jeito mais significativo e interessante que isso possa representar. Sou livre porque posso escolher com quem ficar, a quem beijar, onde e quando, tenho todas as possibilidades bem diante do meu nariz, uma vez que estou sozinha, não tenho parceiro. E isso não é nenhum convite, não é essa a intenção. Mas anseio por alguém que me encare de igual pra igual, e, mesmo uma relação provisória pode ser algo bom se houver de parte a parte , muito respeito, intenções claras e consideração. Ser livre não é, de modo algum, expor sua intimidade a público. Mulher que" abre as pernas" para a platéia, está correndo o risco de não fechá-las tão cedo.

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