quarta-feira, agosto 22, 2007

FLORESCENDO COM A PRIMAVERA




Amado C.

Quando eu "sei" onde você está, como durante a semana, no trabalho, parece que te sinto mais próximo, mais ligado a mim, mais real, isso é mesmo estranho. Mas chegando a sexta-feira, durante o fim de semana e quando você viajou pra sua terra, a impressão que me passa é que te "perco" de vez. É como se eu mapeasse este unvierso virtual e tu estivesses ora mais próximo, ora inatingível, ora até aconchegado, quando chego a sentir através das palavras que quase nos tocamos...


Entrar em contato apenas virtual e a partir daí chegar a tal envolvimento, é uma experiência totalmente nova, embora as motivações sejam resultado de muitas vivências e provavelmente de uma aridez, de um estado de solidão em que me encontrava,. Eu nem sabia, mas já havia "canteiro plantado" pronto pra florescer, bastava que uma chuva muito especial viesse despertar a vontade das plantas de novamente brotar de sementes esquecidas, mas teimosas, inconformadas até, quando tudo já parecia estar resolvido em minha vida. Mas elas precisarão de muita vitlidade para seguirem crescendo e pra que o fato de terem sido despertadas para a vida não venha a ser um esforço vão. Negar a si mesmo a possibilidade de ser, talvez seja o ato mais imoral que alguém possa praticar nesta vida. Foi algo assim que disse Clarice Lispector e sou obrigada a concordar com ela. E vontade de escrever mais, inclui vontade de ler sempre mais e isso é suficiente para suprir a necessidade "específica" que eu também sinto em relação a você? Bem que eu dizia sobre os fechos das cartas, "isso não vai dar bom resultado", lembra disso? E já temos coisas a lembrar, assim, sem sequer ter nos olhado por um instante sequer? E tantos beijos escritos na fria tela, parece que de repente vão perdendo a força , por tanto se repetirem , sem nunca realmente terem sido trocados? Beijo em pensamento, gosto de saudade do nunca experimentado, palavras surgindo da ponta dos dedos e da vontade de ser com o outro, e madrugada fria e vôo cego em linha reta , estaremos "jogando de olhos vendados"? E eu neste labirinto sem achar a melhor forma de me despedir? Uma despedida de corpos não presentes, suspensos na linha sutil dos desejos que apenas espiam temerosos pelos vãos de janelas e lá permanecem esperando...esperando... Mesmo assim eu te dou outro e mais outro

Beijo

Taniucha

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Tania


Ah que manhã, esta! Nem vou esperar nada, não dá; sei que não posso correr e dar um abraço, então faço que apenas posso --- digo já o que estou sentindo!
Li, fui lendo, bebendo, sensaboreando as suas palavras e vem-me esta vontade de falar com você. Nem me refiz, nem organizei as idéias, tudo esta ainda fora de lugar por aqui, mas quero lhe falar no quente do momento, sem nem mesmo me dar a chance de acalmar a onda, a vaga que me percorre as veias! Uma emoção intensa ler você nesta manhã, e há tanto a lhe dizer, tanto... mas as palavras estão se atropelando! Neste instante, é dessa emoção que queria lhe falar!

Quero "registrar" essa emoção antes que a razão talvez apare, como o corte do talo de uma flor, ou como o pássaro que nos encanta, de repente silencia...


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Querido Poeta

Entendo tão bem essa sua afirmação! Mas você realmente "registrou" o momento, dizendo o que lhe foi sendo induzido pela emoção. Você sentiu e revelou isso espontaneamente, ao passo que eu construí uma carta com palavras bem colocadas, interessantes, emocionadas até, mas sem essa naturalidade que surge de uma escrita sem freios, sem cortes, que me deixou tão feliz e me permitiu quase "ver" seus movimentos, sentir quão sincero estava sendo naquele momento, como eu invejo você, que não se tolhe diante de uma descoberta,movimentos diante de uma revelação, que se expõe tão naturalmente a meus olhos, você é mesmo especial. E o que fiz eu ?falei de um sonho, usei uma linguagem superficial, casual, como se estivesse falando de um fato qualquer, como eu me odeio por isso. Mas agora tento remediar, dizendo o quanto este dia foi importante pra mim. Eu gosto tanto de ti, tanto mesmo. E como teria sido bom receber aquele abraço que tiveste vontade de me dar, como!
E ao ler você hoje, fui até a porta e lá estava o céu como sempre esteve, mas de um azul incrível,Parei e olhei de verdade para aquela imensidão, quando dois beija-flores surgiram naqueles volteios, indo direto à laranjeira. Fiquei atenta e vi ao mesmo tempo em que pousavam, que havia tantas flores brancas e pensei que não poderia haver um quadro mais lindo e a prova incontetável de que a primavera estava dando seus primeiros sinais. Na natureza e dentro de mim. Um céu totalmente novo me diz que boas novas serão trazidas pelos ventos do norte.
Quando criança a gente adorava o tal "vento norte". Ele, ao contrário do minuano gelado, cortante, era morno, estranho, misterioso e corríamos ao redor da casa abrindo os braços, "vento norte"," vento norte"... Espero esse vento pra correr novamente de braços abertos dando risada, vento norte...

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Tania

Tomara a primavera esteja mesmo surgindo em você, que, literalmente, vem saindo ( e está saíndo?) de um inverno duro. Tomara o sol lance fora os medos, traga um esplendor de alamandras nas manhãs apenas raiadas! Como seria seu amanhecer, nesta altura de sua vida... que força, que mistérios, que magia seria capaz de apressar essas manhãs, esta primavera??

O vento do norte... do Planalto Central... das altiplanuras de Minas, talvez? Então, que sejam ventos cálidos em sua paisagem do sul... Ah, quisera eu poder cavalgar esses ventos do Norte... mas chegar num tempo que não fosse o tempo de folhas caídas, e sim, o tempo daquela verdura apenas saída da horta, fresquinha, gotejante ainda!

Nossa!! Como estou dispersivo... começo a lhe escrever e vou me perdendo, me perdendo... estou deixando tanta coisa sem responder, comentar... por exemplo, sobre você ter escrito menos (ah, vi os artigosTomara a primavera esteja mesmo surgindo em você, que, literalmente, vem saindo ( e está saíndo?) de um inverno duro. Tomara o sol lance fora os medos, traga um esplendor de alamandras nas manhãs apenas raiadas! Como seria seu amanhecer, nesta altura de sua vida... que força, que mistérios, que magia seria capaz de apressar essas manhãs, esta primavera??








Querido Poeta



E que ventos tão amanhecentes estão soprando ligeiros tal que sempre ao chegar a esta janela, só recebo em meu rosto uma vaga brisa com cheiro de ervas denunciando que os ventos que por aqui a recém passaram, machucaram com carinho a vegetação ainda orvalhada das quatro horas da manhã?
Não cheguei a tempo de ver as escriturinhas lá na tua página. Se pudesses imaginar quantas vezes eu naqueles tempos mais complicados de nós desejei vislumbrar naqueles escritos alguma coisa que de leve pudesse ter a ver comigo? Aquele texto da esteira na praia, como quis que fosse eu a estar lá. E quantas vezes tentei interpretar aquele teu comentário com letra de tango, esquadrinhando cada palavra, aquele em que você assinou Calucho. Aí você me disse que era uma forma de comentar que você sempre usava. Fiquei mesmo muito triste, queria tanto que tivesse sido escrito pra mim... Mas tinha a tal mulher de olhos claros, quem seria? E uma prosa onde você escreveu, "pra você, naturalmente".
Você não poderia ter me dado melhor presente. E não é que eu vou ficar convencida de que sempre que quero muito uma coisa ela acontece? O meu pensamento mágico parece ter respaldo com as divindades...
Não se preocupe com não poder cavalgar agora os ventos em diração ao sul. Eles estarão sempre por aí e o nosso "canteiro plantado" continuará a produzir plantas viçosas que não demora, tu vais ver, estarão diante de nossos olhos...

Um beijo no seu rosto, abraço muito você, e olha, até ja começo a chorar, que coisa não é? Mas que emoção tão boa de se sentir!

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