segunda-feira, outubro 15, 2007



PAPEL PICADO QUE SE PERDE PELAS SARJETAS


Isso de crianças darem vida a coisas inanimadas, nomeando-as, é bem interessante. Na verdade, esses seres são parte do cenário onde se desenrola a existência das pessoas. Lembro que na minha infância, havia uma estátua de Cristo enorme, feita em metal escuro, no cemitério defronte à minha casa e ela representava um grande pavor e, ao mesmo tempo, uma enorme atração. Aquele cemitério em si, é um ser que integra a minha história como cenário e referência, assim como a casa onde me criei. Com o passar dos anos, tais coisas se cristalizam na memória e sem elas já não conseguimos compor os momentos então vividos.
Daí a importância da conservação de prédios antigos, da não destruição sumária de tudo que constituiu nosso espaço vida em tempos passados. E para as novas gerações é importante essa ligação entre o passado e o presente que é possível com a existência de museus, bibliotecas, mas os prédios, as ruas, tem sua dinâmica e andar por caminhos antigos é pisar o chão de nossos antepassados, é recriar no imaginário a memória com a qual vêm os valores e a visão de que não caímos neste lugar de pára-quedas, que somos parte de um processo, que somos resultado de uma longa caminhada. E que nossos atos se projetam sobre o cenário da vida e podem tanto construir quanto destruir. E essa mentalidade individualista surgida com a tal globalização está construindo uma sociedade egoísta, cruel , separatista e quanto mais cresce a divisão do espaço, quanto mais os condomínios fechados se isolam, mais cresce o sentimento de desigualdade entre pobres e ricos, tornando cada vez mais fácil considerarem uns aos outros seres de espécies diversas. Sendo assim, matarem-se uns aos outros, fica algo bem mais banal e corriqueiro, especialmente quando a pobreza cresce no país e multiplica os filhos de ninguém Outro dia eu transcrevi um texto da Nina Horta onde ela falava sobre os bairros de outrora, que é onde as pessoas das cidades grandes tinham uma espécie de cidade pequena onde todos se conheciam, conversavam e onde possivelmente pobres e ricos se tocavam. Quando eu era menina, a gente podia passar defronte às casas finas da minha cidadezinha, podia até ver para dentro delas, através das cortinas, pois não havia esse apparteid geográfico que isolou as pessoas em guetos de acordo com sua classe social. Pois como falou a Nina, até casas muito humildes estão gradeadas como fortalezas, o que dificulta o relacionamento e impede qualquer exercício de boa vizinhança. E quem está do lado de fora da grade muitas vezes não oferece perigo, poderia ser um contato interessante, mas fica também constrangida de ter acesso e passa reto. Dessa forma perdemos todos, os que se fecham, os que passam.
Estes cenários são uma triste consequência da ganância de muita gente que não pensa duas vezes em espoliar os outros para juntar uma fortuna maior. Desde o mais simples funcionário até o mais rico dono de empresa, fica bastante óbvio que existe sempre o desejo de ganhar, de "vencer" na vida, não ser um "looser" e isso passa pelo viés da arrogância e usura, da mesquinharia e egoísmo irracional, de uma compulsão a querer ter em detrimento de ser. A lógica da maioria das pessoas é bastante predisposta a raciocínios em benefício próprio, o meu separado do resto, preservado com vigilância redobrada. E enquanto tantos se dedicam a amealhar suas coisas, a vida se esvai, o tempo de ser feliz encurta rapidamente e tantos momentos interessantes ficam só no campo das possibilidades remotas e inatingíveis. A vida é um sopro, não vamos desperdiçar a chance de viver intensamente, e vibrar positivamente até o mais fundo de nossa condição humana. O resto é papel picado que se perde pelas sarjetas...

Um comentário:

ACADEMIA MACHADENSE DE LETRAS disse...


“ENCONTRO COM A ACADEMIA”

A Academia Machadense de Letras realizará durante suas reuniões, o “Encontro com a Academia”.
Este acontecimento tem como objetivo, a interação e divulgação das manifestações culturais, através de debates com membros da nossa cidade e região.

Contatos:
Carlos Roberto de Souza
machadocultural@gmail.com
(35) 3295-6106
(35) 8833-9255
Bog da Academia: http://academiamachadense.blogspot.com.br/



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